terça-feira, 23 de outubro de 2007

45

Inquieto demais para conseguir voltar a adormecer, Miguel levantou-se da cama e dirigiu-se à cozinha. Precisava de um copo de leite quente para aclamar a inquietude que havia surgido dentro de si ao pensar em Margarida. Aqueles pesadelos que o atormentavam e o faziam colocar em causa que tipo de pessoa seria por os ter já há muito haviam desaparecido. E, por isso mesmo, há algum tempo que não se demorava a pensar nela. Mas aquela inquietude inesperada incomodava-o.

“Chama-se consciência, meu caro”, acusou-se a si mesmo, continuando: “Foste rude e bruto na forma que falaste com ela e agora pesa-te a consciência. Essa é que é essa.”. “Isso é um disparate!”, respondeu a si próprio, “Ela merecia ouvir aquilo tudo e muito mais. A Margarida deixou-me quase desfeito e tudo o que lhe disse foi pouco, porque no fundo sei que não a magoei nem um terço do que ela me magoou a mim. Se voltasse atrás fá-lo-ia novamente.”. No mesmo instante que pensou aquelas palavras, Miguel sentiu um arrepio percorrer-lhe o corpo. “Estou a ficar doido...”, pensou para consigo mesmo antes de beber o seu copo de leite e regressar ao quarto para mergulhar, de novo, nos lençóis.

As horas passaram e quando Miguel se deu conta já era de manhã. Pegou no telemóvel e telefonou a Ricardo.

- Bom dia! Oh Ricardo, almoça comigo! Acho que estou a ficar doido... – disse Miguel assim que Ricardo atendeu o telemóvel.

- Não sei se posso… Tenho uma questão muito importante para resolver, mas podemos jantar. – respondeu Ricardo, sem sequer lhe dar hipótese de replicar.

- Está bem. Já que o que tens para resolver é assim tão importante, eu espero até ao jantar. Mas não te cortes, Ricardo, preciso mesmo de conversar contigo. À tarde telefono-te para combinarmos as horas e o sítio. Até logo. – dizendo isto, desligou o telemóvel, pensando para consigo: “Este gajo está sempre com a cabeça metida no trabalho. Então nos últimos tempos tem sido abusivo.”

Em sua casa, Ricardo olhava para o telemóvel e tentava decidir se telefonava naquele momento a Carla ou se deixava para mais tarde. Resolveu enviar-lhe uma mensagem escrita, não fosse dar-se o caso de ela ainda estar a dormir.

Quando o telemóvel deu sinal de nova mensagem, Carla olhou-o meio a medo: só podia ser Ricardo. Tinha prometido a si mesma na noite anterior que não iria permitir mais nenhum tipo de contacto com ele, só que não foi capaz de resistir ao impulso de ler a mensagem. No entanto, ao fazê-lo tremeu, não pelas palavras doces e apaixonadas de Ricardo, mas sim pela frieza e secura das mesmas.

“Precisamos de conversar. Vou buscar-te a casa às 13hs para almoçarmos. R.”

De modo automático, sem pensar no que estava a escrever, Carla respondeu-lhe da mesma forma seca e fria: “Combinado. Até logo.”

3 comentários:

Anónimo disse...

queria muito muito saber o desenrolar da história...

B disse...

Pois acho que todos queriamos... Mas parece que está dificil

GMSMC disse...

Eu também queria...