terça-feira, 16 de outubro de 2007

43

Ricardo esqueceu a conversa com Filipe, as dúvidas que pairavam sobre aquela relação, esqueceu tudo e apenas correspondeu ao beijo de Carla, envolveu-a nos seus braços e os dois assim permaneceram durante alguns minutos, apenas se beijando e esquecendo o mundo à sua volta.

Quando os seus lábios finalmente se apartaram, Ricardo encaminhou Carla para o seu carro enquanto esta lhe falava das saudades que tivera desde a última vez que o vira.

– Mas foi ontem ao jantar! – exclamou Ricardo.

– E então? Já se passaram mais de vinte e quatro horas! – retorquiu Carla, metendo-lhe o braço no seu.

– Sabes que mais? Também morri de saudades tuas... – disse Ricardo com sinceridade.

Carla abraçou-se a si e voltaram a beijar-se. Ricardo abriu-lhe a porta do carro e, depois de Carla entrar, ele contornou o carro e entrou para o lado do condutor. Girou a chave na ignição e arrancou.

– A cidade não é bonita, à noite? – perguntou Carla, enquanto espreitava pela janela.

– De noite ou de dia, o Porto é sempre magnífico. E então quando estamos na companhia certa... – respondeu Ricardo e a escuridão dentro do carro não deixou ver Carla a corar.

Desceram até à Ribeira e Ricardo estacionou no Parque do Infante. Saíram do Parque e Carla perguntou onde iam. Ricardo não respondeu. À insistência de Carla, murmurou apenas ao seu ouvido, enquanto o seu braço esquerdo a prendia pela cintura:

– É uma surpresa...

Virando as costas à estátua do Infante D. Henrique, desceram até junto do Rio Douro e junto a ele caminharam, atravessando a Praça do Cubo, como é conhecida, até quase junto à Ponte Luís I. Debaixo das duas colunas que marcam o local onde uma vez existiu a Ponte Pênsil, desceram umas escadas de madeira e estavam num terraço em pedra mesmo sobre o Rio, onde existia uma esplanada. Disse então Ricardo:

– Achei que ias gostar de tomar café suspensa sobre a água. Acertei?

– Oh, Ricardo! Isto é maravilhoso! Estamos mesmo no meio do Rio! E a Ponte mesmo aqui ao lado!

Beijaram-se novamente e seguidamente caminharam até à extremidade da esplanada, ocupando a mesa mais afastada da margem e mais junto à Ponte.

A empregada era bastante gorda, mas simpática e bastante eficiente. Trouxe-lhes as bebidas em menos de nada e retirou-se, deixando a esplanada vazia para além de Ricardo e de Carla. Esta levantou-se e desculpou-se, dizendo que precisava de ir ao quarto de banho.

Enquanto Carla se encontrava no quarto de banho, a conversa da tarde com Filipe veio de novo à memória de Ricardo, mas este afastou-a. Não ia deixar essas preocupações estragar aquele momento, que queria só para si e partilhado apenas com Carla. “Estarei a fazer a coisa certa?”, questionou-se. Não teve tempo de encontrar a resposta, porque entretanto Carla reapareceu e Ricardo, observando-a enquanto ela atravessava a esplanada por entre as mesas vazias, sentiu-se levitar acima do chão enquanto se esvaziava das preocupações que o tinham assolado ainda há uns segundos. Era esse o efeito inebriante de Carla. Não havia dúvidas: estava apaixonado.

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