quinta-feira, 18 de outubro de 2007

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"Mas o que é que me deu? Só posso estar a perder completamente a noção da realidade. Isto não pode ser… Não posso voltar a vê-lo. Ceder a impulsos nunca foi o meu forte, e sempre que o fiz as coisas não correram bem. Não pode ser”, pensava Carla de si para consigo mesma enquanto abria a porta do prédio, depois da despedida de Ricardo, que a trouxera de volta depois do encontro sobre o Rio.

Sentia que havia cedido a uma fraqueza, termo que, em boa verdade, usava para se convencer a si mesma de que o que sentia por Ricardo nada mais era do que uma simples atracção física. Era impensável, sequer, considerar a hipótese de que se havia apaixonado por ele. Não podia ser. Os últimos dois dias tinham sido uma loucura, momentos que sabia não poderem repetir-se. Só não sabia até quando teria força para resistir à vontade de voltar a perder-se nos braços de Ricardo e esquecer o mundo.

Sentia-se tão perdida e tão sozinha!

Já em casa, e depois de espreitar Tomás, que dormia descansado e tranquilo, dirigiu-se à sua casa de banho, despiu-se, abriu a porta da cabine de duche e entrou. Já lá dentro, abriu a água quente e deixou que ela escorresse sobre o seu corpo, como se quisesse apagar da sua alma tudo o que sentia. Com a água a escaldar a escorrer-lhe pelo corpo, Carla fechou os olhos e deixou-se levar pelas recordações. Retrocedeu no tempo e reviveu, por breves instantes, a festa de Carnaval e tudo o que se lhe seguiu. Depois pensou em Ricardo e chorou. À medida que o conhecia mais, ele ia derrubando as suas muralhas e fazendo com que o sonho de ser feliz e construir uma família maior ganhasse contornos de realidade. Ricardo e Tomás pareciam entender-se às mil maravilhas, como se fossem pai e filho, mas não eram. O pai de Tomás era Miguel e essa verdade jamais a deixaria ser feliz com Ricardo. Nesse instante percebeu que o que sentia por ele não poderia, simplesmente, ser vivido.

Saiu do duche mais calma e com a certeza de que a decisão correcta para todos só poderia ser aquela. Quando chegou ao quarto olhou para o telemóvel e viu que tinha uma mensagem escrita. Pensou em não abrir. Sabia ser de Ricardo. “Qual é o mal?”, questionou-se a si mesma, “Afinal não vou voltar a vê-lo. É uma espécie de despedida…”, tentou convencer-se a si mesma.

“Gosto muito de ti!!! E não te quero perder… Beijo enorme e dorme bem ***”

Ao ler a mensagem de Ricardo, sentiu-se ficar sem forças e deixou-se cair em cima da cama. Era imperativo afastar-se. Não podia voltar a vê-lo. Só não sabia como lidar com isso.

Em sua casa, Ricardo debatia-se com um dilema semelhante.

“Só posso estar a ficar doido. Só posso. Depois da conversa com o Filipe, como é que eu me fui deixar ir numa destas. Já não sou nenhum puto. Tenho é de ter juízo, deixar-me de paixões e pensar no que é realmente importante. O Miguel é o meu melhor amigo. O Tomás é, quase de certeza, filho dele. E se essa ténue dúvida se consolidar em certeza, ele tem o direito de saber que tem um filho fantástico como o Tomás. Amanhã vou falar com a Carla. Tem de ser. Ela vai ter de me contar a verdade. E depois, consoante o que resultar da nossa conversa, vou falar com o Miguel.”

A poucos quilómetros dali, Miguel acordava inquieto. No dia seguinte voltaria ao trabalho, e sentia-se ansioso para regressar ao “seu pequeno mundo”, como Margarida costumava chamar ao seu gabinete na empresa. Pensou em Margarida e sentiu um aperto no peito. Há algum tempo que não sabia nada dela.

7 comentários:

Anónimo disse...

Não seria má ideia avisarem que já desistiram disto... Ou pelo menos mudar o cabeçalho que diz "às terças e quintas"!!

nokturnna disse...

Vá... Continuem... Deixam-me nervosa a cada capítulo que passa!
Força! E outra coisa... Arranjem-me lá o contacto do Ricardo. Deve ser fixe o rapazito! ***

GMSMC disse...

Caro Anónimo,

Não desistimos. Se não estamos a publicar com a periodicidade devida é porque este blogue não nos dá de comer, o que, de vez em quando, também faz falta.
Se disseres quem és, talvez possamos poupar-te trabalho e enviar-te os episódios por correio electrónico; que tal?

GMSMC disse...

Querida Sonhadora,

Não és só tu que ficas nervosa a cada capítulo que passa; eu também!
Quanto ao contacto do Ricardo, tens a certeza de que o queres? Eu cá não o casava com uma filha minha, mas isso sou eu...

Beijinhos,
GMSMC

Maria disse...

Anónimo - Aqui ninguém desistiu de nada. Simplesmente, somos pessoas com vidas bastante ocupadas, cujo tempo livre é muito pouco e tem de ser dividido entre muitas coisas e muitas pessoas.

Só não percebi é se gosta do que lê por aqui, ou não. É que se gosta, percebo o seu "descontentamento" na irregularidade das publicações. Se não gosta, temos pena!!!

Maria disse...

Sonhadora,

Estamos a continuar. E as ideias fervilham-nos na mente, mas o tempo é muito pouco. As obrigações profissionais são cada vez maires e a história tem andado a ser um pouco descurada. Mas espero que continues a gostar de nos ler.

Quanto ao contacto do Ricardo, eu até to arranjava, mas aí ias ter de dispersar a tua atenção por pelos menos três homens... ;-)

Beijinhos,

Maria

B disse...

Claro que o blog não dá de comer e as vossas vidas são muito preenchidas mas concordo com o anónimo...podiam pelo menos mudar o cabeçalho para "quando temos disponibilidade" senão é "publicidade enganosa"!

Quanto à escrita é impossivel não gostar!