quinta-feira, 13 de setembro de 2007

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Quando, finalmente, aquele beijo começou a acalmar e o abraço que os envolvia ficou menos apertado, Carla tentou recuar e libertar-se dos braços de Ricardo que, sem grande esforço, não permitiu que isso acontecesse. Com suavidade, Ricardo reaproximou-a de si e voltou a beijá-la. Por instantes pensou que Carla iria tentar afastá-lo, mas ela não o fez. Quando sentiu, novamente, o calor do abraço apertado de Ricardo e o toque apaixonado do seu beijo, Carla perdeu qualquer réstia de força para lhe resistir que pudesse, ainda, existir no seu corpo. Naquele momento estavam ambos completamente envolvidos um no outro, como se de magia se tratasse.

Mas o momento rapidamente se quebrou com o toque do telemóvel de Ricardo. Quando viu o nome de Miguel piscar no visor do seu telemóvel, Ricardo sentiu um arrepio de frio percorrer-lhe o corpo inteiro. Parecia um aviso de que não devia envolver-se com aquela mulher. A contragosto, e devido à insistência de Miguel, acabou por atender o telemóvel.

- Olá! Está tudo bem?

- Estava aqui a pensar na nossa curta e nada esclarecedora conversa de hoje à tarde, e resolvi ligar-te para saber o que te atormenta assim tanto. – disse-lhe Miguel em tom de brincadeira.

Ao escutar estas palavras, Ricardo olhou para Carla com um semblante enigmático e triste, ao mesmo tempo. Os beijos que acabava de partilhar significavam muito mais do que um simples desejo. Havia neles algo mais profundo e intenso do que um mero e saciável desejo. Um sentimento que há muito Ricardo não se atrevia a sentir. Só não sabia se aquela seria, ou não, a mulher certa para voltar a fazê-lo sentir aquele tipo de sentimentos.

- Falamos depois, com calma. Não são conversas para se ter ao telemóvel, não achas Miguel?

Quando Ricardo pronunciou o nome de Miguel o olhar de Carla escureceu, como se uma nuvem o tivesse ensombrado de um momento para o outro. E, naquele instante, Ricardo teve certeza daquilo de que desconfiava. Só precisava de confirmar com as fontes certas. Pensou em Filipe, e nos tempo que ainda faltava para ele regressar a Portugal. Apenas ele poderia, com toda a certeza, contar-lhe o que havia acontecido na noite da Festa de Carnaval.

- Se achas melhor assim, também não vou insistir. Mas deves-me uma conversa, não te esqueças. – e dizendo isto, Miguel fez uma pausa prolongada, como se procurasse as palavras certas para o que queria dizer a seguir – Eu também preciso de falar contigo. Também há algo a atormentar-me. Tenho tido uns pesadelos terríveis com a Margarida e com o filho dela... Mas tens razão, não são conversas para se ter ao telemóvel. Almoça cá em casa amanhã e conversamos melhor. Que dizes? A minha Mãe ia adorar.

- Combinado. Amanhã estou aí às 13hs para almoçarmos e conversarmos. Temos mesmo muito que conversar. Agora vê lá se vais descansar. Não te esqueças do que o médico disse: nada de avarias durante, pelo menos, uma semana.

E dizendo isto desligou o telemóvel e voltou a fitar Carla. Aquele telefonema de Miguel tinha arruinado, por completo, o momento tão bonito que haviam acabado de partilhar. Nem um nem outro se sentiam à vontade para se perderem nos braços um do outro naquele instante.

- Vamos jantar? – propôs Ricardo.

Carla anuiu, e sentaram-se à mesa. O jantar decorreu com calma. O tratamento formal entre ambos caiu definitivamente. Depois daqueles momentos, interrompidos pelo telefonema de Miguel, não fazia sentido continuarem a tratar-se com a deferência de dois estranho.

Quando deixou Carla em casa, Ricardo sentia-se no centro de um furacão. Com a cabeça cheia de questões para as quais não tinha resposta, e dúvidas que, naquele momento, lhe pareciam insanáveis, Ricardo dirigiu-se a casa e, assim que lá chegou, entrou num duche a escaldar, como se procurasse exorciizar tudo o que naquele momento lhe roubava, de forma violenta e vil, a possibilidade de ser feliz. E foi naquele momento que Ricardo percebeu que ao lado de Carla seria feliz. Mas será que a vida lho permitiria? Com esta questão a dominar-lhe os pensamentos, encostou-se na cama e adormeceu.

2 comentários:

Maria disse...

Meus queridos, por motivos que não interessam nada agora, só hoje me foi possível publicar o "XXXIV". Espero que tenha valido a pena aguardar mais um dia...

Beijo grande a todos,

Maria

Anónimo disse...

Finalmente pode actualizar-me desde Julho. Já há muito tempo k não tinha oportunidade para vos ler mas vejo k continuam com a escrever com a mesma atenção e alegria k nos prende ao ecra.
Continuem e parabéns mais uma vez.