quinta-feira, 9 de agosto de 2007

24

- A Margarida esteve cá, ontem... – disse Miguel a Ricardo.

- Eu sei. Cruzei-me com ela, à saída. Ainda tentei que ela não viesse ver-te, mas foi em vão. – respondeu-lhe Ricardo, tentando não deixar transparecer que sabia mais do que dizia.

Mandei-a embora. Depois fiquei a pensar se deveria tê-lo feito assim, ou não. Mas a raiva foi tanta, que nem sequer falar a deixei.

- Então não sabes o que ela tinha para te dizer???

- Não, mas também já não importa. Quero-a fora da minha vida. Acabou o reinado da Margarida em mim.

- Miguel... Eu tenho de contar-te uma coisa. A Margarida esteve comigo hoje de manhã. Não, não digas nada e deixa-me falar, antes que perca a coragem. – disse-lhe Ricardo de uma só assentada, como se as palavras fossem fugir-lhe no instante seguinte. E prosseguiu. – Ela disse que te ama, que está arrependida e que veio aqui para te pedir que esperasses por ela até o bebé nascer. Disse que se envolveu com o outro por orgulho ferido, porque a tinhas mandado embora, e que quando se deu conta já estava irremediavelmente ligada a um homem que não amava.

Miguel ficou em silêncio e Ricardo olhou-o interrogativamente. Conhecia bem o amigo, mas quando o assunto era “Margarida” sabia que podia contar com qualquer tipo de reacção.

- Sabes, Ricardo. Eu amo a Margarida. Mas o nosso tempo passou. Eu mandei-a embora porque não estava feliz ao lado dela, e ela seguiu a vida dela. Fez as escolhas dela. Está grávida. Vai ter um filho de outro homem. Sabes o que é que ela me dizia quando estávamos juntos? Que se um dia fosse Mãe que não se importava, mas que não era uma coisa que desejasse muito. Mas, meses depois de termos acabado, além de um novo namorado, estava grávida. Eu desesperei. Achei que o meu mundo ia desmoronar-se e que a minha vida tinha acabado. Só que depois tive o acidente, e tudo mudou. Estou todo partido, mas agora, passados uns dias, consigo perceber que poderia ter sido bem mais grave do que umas fracturas e uns dias numa cama de Hospital. Este acidente mudou-me. Ainda não sei explicar bem como, mas o porquê é evidente. A vida está a dar-me a oportunidade de a viver de verdade, novamente. E não a vou desperdiçar. Sempre fui um tipo alegre e bem disposto, e desde que as coisas com a Margarida azedaram, a minha alegria foi-se. E ontem, pela primeira vez, senti a minha alegria de volta, quando percebi que estou vivo e que daqui a uns tempos este acidente já não será mais do que passado, tal como a Margarida já é. Tenho pena que ela tenha percebido que me ama tarde demais. Eu agora só quero ficar bem e retomar a minha vida. Talvez um dia seja capaz de voltar a amar outra mulher. Mas, para já, só quero paz e descanso. Tenho de pensar em mim. Acabou.

Naquele momento Ricardo percebeu que qualquer coisa que dissesse seria inútil. Afinal ainda conhecia bem o amigo. Sabia que Miguel amava Margarida, e havia percebido que ela também o amava. Mas, também sabia que Miguel jamais seria capaz de voltar a viver aquele amor. As feridas eram profundas demais, e as mágoas eram imensas. Apesar de se amarem, aqueles dois jamais poderiam ser felizes juntos. Essa ideia entristeceu-o. E apenas um pensamento o animou: Miguel não havia dito que não queria voltar a amar. E isso era muito importante. Isso dava-lhe a certeza de que Miguel, um dia, voltaria a ser feliz.

- Sabes Miguel, quando a Margarida saiu lá de casa, hoje de manhã, eu fiquei sem saber se haveria de contar-te acerca da nossa conversa, ou não. Mas percebi que tinha de te contar. E vejo que foi o melhor que fiz. Se realmente é essa a tua decisão, ao menos que seja tomada sabendo tu de toda a verdade.

- Obrigado, Ricardo. A minha decisão está tomada. Quero que a minha vida ande para a frente, e isso só vai acontecer longe da Margarida.

Ricardo assentiu com um ténue gesto com a cabeça. Sabia que, naquele momento, o silêncio era a melhor via. Estaria ali para tudo o que o amigo precisasse, como sempre havia estado.

De repente, olhou para o relógio e percebeu que eram horas de ir embora. Despediu-se de Miguel e regressou à empresa.

A conversa com Miguel continuou a passear-lhe na mente o resto da tarde. Sentia uma admiração enorme pelo amigo. Apesar de amar aquela mulher, Miguel sabia que com ela jamais poderia ser feliz de verdade e, por isso, havia preferido abdicar dela e do amor que ela dizia sentir.

Fechou os olhos e, nesse instante, recordou Tomás. Já sabia quem o fazia lembrar. Mas era impossível. Eles nem se conheciam. Relembrou o rosto de Carla, o seu sorriso, o toque da sua pele, o calor do seu abraço, o cheiro do seu cabelo, e, naquele momento, sentiu saudades dela. Mas tinha de esperar. Sexta jantariam, e teria de aguardar pacientemente pela sua chegada.

4 comentários:

B disse...

Será que o segredo de Carla vai ser descoberto??

Anónimo disse...

Acho que isto vai dar molho.... não sei porquê! O Ricardo vai acabar por apresentar o melhor amigo à Carla, e o Miguel vai dar de caras com o puto e ver-se a ele próprio.... Chiça!
Aguardo terça feira com impaciência!
Beijos, continuem!

Maria disse...

Bárbara - A ver vamos... Nesta história nunca se sabe o que pode acontecer!!!

Beijinhos,

Maria

Maria disse...

Alex - O rumo desta história está, ainda, com contornos muito ténues e, nalguns pontos, até mesmo indefinidos. Tudo pode acontecer...

Beijinhos,

Maria