quinta-feira, 21 de junho de 2007

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A semana passou a voar, e Carla só de deu conta disso por volta da hora de almoço, daquela bela sexta-feira de Primavera, quando o telefone tocou e do outro lado a secretária perguntou se podia passar uma chamada do Dr. Ricardo Oliveira Cardoso. Como se tivesse sido obrigada a descer à realidade, Carla assentiu em receber a chamada.

- Olá Carla! Como está?

- Bem, obrigada. E o Ricardo?

- Também! Sabe, estou a ligar-lhe para confirmar o jantar de logo à noite e para perguntar se quer que a vá buscar a algum lugar. – disse Ricardo com um à vontade de que Carla não estava à espera.

- Sim, o jantar confirma-se. Mas não será necessário ir buscar-me onde quer que seja. Encontramo-nos lá. – rematou Carla.

- Como queira! Não posso dizer que não tentei.

- Estamos combinados, então, às 21h30 no “Cafeína”. Até logo, Ricardo. – tentou Carla despachar a conversa.

- Combinado, então. Um beijinho e até logo! – “esta é dura na queda”, pensou Ricardo, desligando em seguida.

Depois de desligar o telefone, Carla, que se preparava para ir almoçar, pensou no almoço que havia tido com o Pai, dias antes, naquele mesmo lugar. Pensou ainda no bilhete de Miguel que havia deitado ao lixo. E, pela primeira vez, e depois do telefonema de Eduardo, questionou-se se havia feito, realmente, bem em agir daquela forma.

Receber aquela chamada de Eduardo, na noite anterior, fê-la repensar algumas questões.

Na altura em que Tomás nasceu aquela havia sido a solução mais simples, e mais prática. Afinal eram primos em 4º grau, e a situação não traria problemas de maior. Tomás precisava de ter nome de Pai, e Eduardo, que sempre havia sido o melhor amigo de Carla, fizera questão de registar o Primo com o seu nome.

Três anos mais velho do que Carla, Eduardo era, na altura do nascimento de Tomás, um dos melhores alunos do terceiro ano de Direito da Faculdade de Direito de Lisboa. Já naquela altura brilhava no Direito Fiscal. E poucos anos mais tarde esse seu talento viria a confirmar-se ao integrar uma das Sociedades de Advogados mais importantes nessa área do Direito, em Lisboa.

Eduardo sempre adorara Tomás, e sempre fizera questão de ser seu “Pai”, mas Carla nunca o permitira. Havia aceite que o primo desse o seu nome ao filho, mas sempre deixara bem claro que não queria que Eduardo condicionasse a sua vida por causa de um papel que não era seu. A amizade sincera e pura entre os dois permitiu que o Primo percebesse e respeitasse a decisão de Carla. E assim Eduardo tornou-se no Tio Dado.

Mas agora a situação tinha-se alterado. Eduardo ia casar-se e queria contar a verdade à noiva. E não era fácil para ele explicar-lhe que tinha um filho, mesmo não sendo o Pai biológico.

- Vou ao Porto no fim-de-semana, e levo a Leonor. Temos de ser os dois a conversar com ela e a explicar-lhe a situação. E começo a acreditar que talvez esteja na hora de o Tomás conhecer o Pai. Não achas? – dissera-lhe Eduardo no seu tom de voz determinado e peremptório.

Carla concordara em conversar com Leonor, juntamente com Eduardo. Percebia perfeitamente o Primo, e ajudá-lo-ia no que fosse necessário. Afinal havia sido com ele, e só com ele, que ela partilhara o seu segredo, a sua história e a verdadeira identidade do Pai de Tomás. Agora era a sua vez de ajudar Eduardo.

Mas quanto ao facto de revelar, de uma vez por todas, que era o Pai de Tomás, isso ainda teria de pensar muito bem. Não podia expor o filho daquela forma. Fizera tudo para o proteger, e não seria agora que iria colocar o seu bem-estar em risco. Alguma solução encontraria.

Saiu para almoçar e tentou não pensar mais no assunto. Eduardo chegaria no dia seguinte, mas antes, nessa noite, ainda teria o tal jantar com um Don Juan de seu nome Ricardo. “Aquela cara é-me familiar... Mas de onde???”, questionara-se, novamente, Carla.

A tarde passou sem que se desse conta, e num instante chegou a noite. Estava quase pronta para sair de casa quando Tomás entrou no seu quarto e lhe fez a pergunta mais inesperada:

- Mamã, porque é que os outros meninos têm um Papá e eu não?

Carla gelou, e sem saber muito bem o que responder ao filho, disse-lhe que eram quase horas de ir para a cama, mas que como era sexta-feira iria permitir que Elisa o deitasse um pouco mais tarde.

- Sem reclamações, quero-te na cama às 22h30. Combinado?

- Combinado, Mamã!!! – respondeu Tomás que feliz saiu do quarto da Mãe a saltitar e a chamar por Elisa para lhe dar a boa nova.

Antes de sair de casa, Carla dera a Elisa as instruções necessárias e dissera-lhe a hora a que deveria deitar Tomás. A empregada assentiu.

Depois de dar um grande beijo ao filho, Carla saiu de casa e entrou no carro. Colocou a chave na ignição e rodou-a de modo a que o motor começasse a trabalhar.

“O que é que eu faço agora?”, questionou-se a si mesma. E sem aguardar “resposta” meteu a primeira e arrancou...

2 comentários:

Anónimo disse...

bem, comecei a ler-vos hoje, e comecei do principio... nao consegui parar. agora espero por amanha...parabens, ta o máximo!

Maria disse...

Alex - Muito obrigada! Espero que o seguimento da história continue a agradar-te!

Beijinhos,

Maria