terça-feira, 19 de junho de 2007

9

Parecia que aquele dia interminável não teria fim. O acidente de manhã, a reunião do Conselho de Administração e a reunião de Pais no Colégio de Tomás tinham-na deixado exausta. As únicas coisas boas daquela longa segunda-feira haviam sido os miminhos de Tomás logo de manhã, antes de ficar no colégio, e o almoço com o Pai.

Fechou os olhos e recordou o restaurante onde tinha ido almoçar. Era obrigada a admitir que o tal Ricardo tinha bom gosto. O “Cafeína” era, de facto, um restaurante elegante e requintado, com um ambiente sóbrio e um atendimento impecável. Além de ter muita lábia, o tipo era refinado. Algo lhe dizia que deveria ter cuidado com ele.

Eram quase horas de ir buscar Tomás ao colégio quando o seu telemóvel tocou.

- Minha querida filha, e se eu fosse buscar o meu neto ao colégio e o levasse a jantar. Assim num jantar só de homens? Depois do nosso almoço fiquei com a nítida sensação de que estás muito cansada. Aproveita estas horinhas para fazeres alguma coisa por ti. Que me dizes? – perguntou-lhe o Pai assim que atendeu o telemóvel.

- Excelente ideia, Papá! Fico-te muito grata! O Tomás vai adorar ir jantar contigo. E eu vou aproveitar para tomar um banho revitalizante. O dia de hoje parecia não ter fim.

- Às 21hs deixo-o em casa. Pode ser?

- Com certeza. Ele costuma deitar-se às 21h30, por isso era hora é perfeita. Até logo Papá, e obrigada! – despediu-se Carla do Pai.

Iam saber-lhe bem aqueles momentos só para si.

Entretanto, e enquanto Carla se preparava para sair da empresa em direcção a casa, Miguel, inquieto, interrogava-se relativamente ao assunto sobre o qual Ricardo queria falar-lhe.

Ricardo telefonara-lhe ao início da tarde, dizendo que tinha a máxima urgência em falar consigo, mas aquele cliente chato tinha-o impedido de atender o chamado do amigo. Acabaram por combinar jantar. Mas a verdade é que Miguel se sentira curioso e incomodado o resto da tarde. Haviam sido raras as vezes em que Ricardo lhe dissera ter muita urgência em conversar com ele. Estranhara aquela urgência repentina e sem motivo aparente do amigo. E estranhara ainda mais o pedido expresso de Ricardo para conversarem em sua casa. Ainda tinha de despachar algumas coisas no cliente, mas iria conseguir estar às 20h30 em casa de Ricardo. Qualquer coisa lhe dizia que daquela conversa não viria boa coisa. Mas não valia a pena especular. Já faltava pouco para saber.

Concentrou-se de tal forma que quando deu por si eram já 19hs. Ainda precisava de ir a casa tomar um duche e trocar de roupa. Voou até casa e às 20hs estava pronto para sair. E assim o fez. Sem nunca imaginar, sequer, o teor da conversa que o aguardava daí a poucos minutos.

Ao chegar a casa de Ricardo percebeu no amigo uma agitação fora do normal.

- O que é que se passa, meu? Fiquei preocupado contigo a tarde inteira, por causa desta tua urgência! – disse Miguel assim que chegou a casa de Ricardo.

- Senta-te. Preciso de te contar uma coisa e é melhor que estejas sentado. Tem a ver com a Margarida...

- Com a Margarida? Mas que raios tens tu para me contar da Margarida? Ai, já não estou a gostar da brincadeira.

- Deixa-me falar. Não me interrompas e já vais perceber. A Margarida apareceu-me aqui em casa hoje, à hora do almoço. Tinha eu vindo tomar um duche e trocar de fato para a reunião com os Franceses quando me tocam à campainha. Qual não foi o meu espanto quando vi que era a Margarida. Apesar de estranhar, abri-lhe a porta e começámos a conversar. Ela veio cá para me pedir que te dissesse que a deixasses viver a vida dela. Conheceu um homem há três meses e está grávida de um mês e meio. E quer que a deixes em paz de vez. Pronto, já disse. Agora podes falar. – disse Ricardo, de uma só vez, como se tivesse receio que, entretanto, a coragem lhe falhasse.

- Estás a gozar comigo, não estás? Isto só pode ser uma piada de mau gosto. A Margarida? Grávida? De outro gajo? Só podes mesmo estar a gozar-me...

- Acredita que preferia mil vezes estar a pregar-te uma partida daquelas nossas do que estar a contar-te esta verdade cruel. Mas a Margarida achou preferível que soubesses por mim.

- Por ti? Mas vocês nunca gostaram um do outro. Não acredito.

- Tens razão quando dizes que nunca gostamos um do outro. Mas sempre gostamos muito de ti. Só que a vossa relação terminou, por culpa tua, e agora ela refez a vida dela. Ninguém a pode condenar. Sinto muito ser eu o mensageiro de tão dolorosa missiva. Mas não havia outra forma de o dizer.

- Preciso de pensar. Isto não pode estar a acontecer. A Margarida não pode estar grávida de outro. Não pode. – respondeu Miguel, num tom de voz sumido e triste.

Ricardo sabia que havia acabado de partir o coração do amigo em mil pedaços, mas nada havia podido fazer para o evitar. Afinal a verdade era só uma – Margarida tinha reconstruído a sua vida e ia ser Mãe. E dessa verdade ninguém poderia fugir.

Em sua casa, Carla olhava para o relógio. Eram quase 21hs, e o seu menino deveria estar quase a chegar. Valia a pena ter sofrido tudo aquilo só para poder ter o prazer e a felicidade de apertar o seu filho nos braços e de o ouvir dizer que a amava muito.

6 comentários:

Anónimo disse...

Maria é bom ter-te de volta.
E não te esqueças que os acidentes de percurso são como as pedras no caminho...;)

Maria disse...

BACMS - Obrigada pelas boas-vindas!

É por isso que um dia ainda hei-de construir um castelo... ;-)

Beijinhos,

Maria

B disse...

Bons olhos te "leiam" ;)

Beijinhos

Maria disse...

Bárbara - Obrigada! Vamos a ver se esta semana não me lêem só a mim! ;-)

Beijinhos,

Maria

Anónimo disse...

Então menino e menina? Faltam sete minutos minutos para as 00:00 de sexta feira. Onde é que anda o novo episódio

Maria disse...

BACMS - Já aí está!!! Pode tarder, mas não falha!!!

Beijinhos,

Maria