quinta-feira, 7 de junho de 2007

6

Era estranho chegar a casa e percebê-la maior. Um mês depois ainda lhe custava entrar naquela que era a sua casa e sentir que jamais seria igual viver ali.

Comprara-a há um ano e meio, na altura em que resolvera pedir Beatriz em casamento. Apesar da sua fama de Don Juan, Ricardo sempre havia sido completamente apaixonado por ela, e desde que tinham começado a namorar jamais lhe fora infiel. O choque inicial que sofreu quando Beatriz recusou casar com ele foi mitigado pela contra-proposta que ela lhe fez “Ainda somos muito novos. Podíamos experimentar viver juntos. Se resultar logo pensamos em casar. O que dizes?”. A custo aceitara a proposta. Mas amava aquela mulher e não queria perdê-la. Se a vontade dela era viverem juntos, então que se cumprisse.

Conheceu Beatriz no segundo ano de faculdade, e apaixonou-se à primeira vista. Conquistá-la havia sido uma árdua tarefa. Afinal a sua fama de quebra-corações não abonava muito em seu favor. Só ao fim de seis meses é que conseguiu que ela aceitasse sair consigo. Passados mais seis já eram namorados.

Os amigos que nunca acreditaram muito que Ricardo estivesse mesmo apaixonado acabaram por ter de render-se às evidências quando ele lhes comunicou que ia viver com Beatriz.

Há um mês atrás, e de um momento para o outro, Beatriz tinha terminado tudo com ele, saindo de casa em seguida. “Já não te amo”, dissera-lhe ela com uma naturalidade confrangedora, como se fosse possível deixar de amar alguém de um dia para o outro. Não tentou demovê-la. Sempre havia acreditado que amar alguém passava por dar ao outro o que ele precisasse para ser feliz, mesmo que essa felicidade não fosse junto de si. E havia sido com base nesta premissa que não tinha pedido a Beatriz que reconsiderasse. E agora, um mês depois, a ausência dela na casa que ambos haviam partilhado durante mais de um ano ainda doía. Mas, naquela manhã, e depois daquela discussão telefónica que tinha tido com Beatriz logo cedo e que tinha estado na origem da sua distracção e, consequentemente, do seu acidente, algo havia mudado.

Aquela mulher bonita não lhe saía da cabeça. A sua voz doce e meiga ainda ecoava na sua mente. Tinha reparado que no banco de trás havia uma cadeira de transporte de crianças. Mil e uma questões passearam na sua cabeça ao longo de todo o dia. Será que era casada? Será que a cadeira era de um filho? Será que era de um irmão mais novo? Ou será que era de um sobrinho? Não conhecia aquela mulher, mas ela tinha tido o condão de alegrar o seu dia. No entanto, sabia que a sua cara não lhe era estranha. Mas de onde seria? Estava decidido a desvendar o mistério no jantar de sexta-feira.

De repente lembrou-se da conversa com Miguel. Estava preocupado com o amigo. Aquela história com Margarida estava longe do fim, e Ricardo sabia-o muito bem. Só tinha visto Miguel assim uma vez. Nessa altura havia tido razões para isso – afinal fora trocado por um tipo execrável e arrogante. Mas desta vez, com Margarida, as coisas tinham sido bem diferentes. Terminara a relação que tinham porque não tinha certeza de gostar dela, e agora que ela resolvera seguir em frente é que ele havia percebido que, afinal, gostava mesmo dela. Achava curiosa esta forma de sentir do ser humano. Porque seria que as pessoas só descobriam o verdadeiro valor que as outras tinham na sua vida quando as perdiam?

Tentou libertar a mente de todos aqueles pensamentos e dirigiu-se ao quarto. A nova decoração havia ficado perfeita. Aos poucos estava a mudar a decoração da casa. Já tinha alterado o escritório e o quarto. Só faltava a sala, a cozinha e a casa de banho. Queria mudar tudo. Não deixaria qualquer vestígio da passagem de Beatriz na sua casa. Apesar de isso lhe custar muito, ainda.

Estava a precisar de um banho de água bem quente, a escaldar. Como se a temperatura da água conseguisse acelerar o processo de catarse em que se encontrava e tirar Beatriz de vez de si.

Todavia o banho quente teve de ser adiado por causa do toque da campainha.

Do outro lado da porta encontrava-se a última pessoa que imaginava poder procurá-lo – Margarida!!!

4 comentários:

nokturnna disse...

A Margarida a procurar o Ricardo... Hum... Que estranho. Que se passará? Vá meninos! Toca a escrever! "Não percam os próximos episódios... Porque nós, também não." :)

B disse...

E o mistério adensa...
Isto é uma maldade só publicarem à terça e à quinta... acho que não consigo aguentar tanto tempo ;)

Maria disse...

Sonhadora - Isso vais ter de esperar para ver... ;-)

Beijinhos,

Maria

Maria disse...

Bárbara - Nós só fazemos maldades... LOL Estou a brincar!!! ;-)

Terça é já amanhã! Está quase! E, ou muito me engano, ou o episódio do Gu vai ser muitíssimo bom (como sempre)!

A espera valerá a pena! (espero eu, no que me diz respeito)

Beijinhos,

Maria